Antonio Caringi

Antonio Caringi

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antônio Caringi foi um escultor brasileiro.

(Pelotas, 25 de maio de 1905 - Pelotas, 30 de maio de 1981)

Iniciou a sua carreira internacional em 1928 onde aprimorou sua técnica como escultor, principalmente na Academia de Belas Artes de Munique, Alemanha. De volta ao Brasil em 1934, concorreu e venceu o concurso para a estátua eqüestre do general Bento Gonçalves. Retornou para a Europa, em 1936, para aperfeiçoar sua técnica, viajando por diversos países. Voltou definitivamente no Brasil em 1940 por ocasião da Segunda Guerra Mundial.

O pelotense Antônio Caringi é considerado o maior escultor de obras épicas da história da Arte no Rio Grande do Sul - pelo fato da maioria das suas peças retratarem figuras gaúchas, é definido como O Escultor dos Pampas (…).

O menino Antônio Caringi tinha facilidade e gosto por esculturas e desde 1915 esculpia pequenas coisas inclusive nas minúsculas barras de giz do colégio. Depois do giz, revolve usar a terra preta do jardim para encontrar matéria-prima para esculturas em barro. A primeira porção de argila tratada pelas mãos do artista, lhe é presenteada por um relojoeiro da cidade. Como na pré-adolescência ainda persistisse o gosto pela arte, o pai, que queria a todo custo direcioná-lo para alguma profissão “séria”, o proíbe de dedicar-se a trabalhos de arte.

A saída foi fazer esculturas em argila, escondido no porão. Assim, Caringi seguiria como autodidata. A fim de expandir uma cadeia de lojas de chapéus da família, seu pai é encarregado de inaugurar uma filial em Bagé/RS, e para lá se muda com a prole. Os familiares acreditam que foram as memórias de infância vividas naquela cidade é que o inspiraram nas famosas esculturas em que retrata a figura gaúcha de modo imponente, altivo e destemido, a exemplo de Sentinela Farroupilha e Herói do Pampa, entre muitos outros. Em Bagé/RS, cursa o primário e o ginasial.

Em 1918, a família passa a residir em Porto Alegre/RS, onde Antônio se bacharela em Ciências e Letras, e começa a participar de salões. Em 1920, expõe pela primeira vez, apresentando o busto de sua irmã Hilda, intitulado Menina Altiva, no Salão de Outono (desconhece-se a cidade). Em 1923, começa a estudar Química Industrial na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não conclui o curso.

Com carta de apresentação de Borges de Medeiros e Lindolfo Collor, bate à porta do então ministro Otávio Mangabeira, no Rio de Janeiro/RJ: como resultado, é nomeado Adido Cultural no Consulado Brasileiro em Münich. Em 1928, aos 23 anos, segue para Alemanha, estudando Escultura com Hans Stangel e Herman Hahn na Academia de Belas-Artes de Münich, em curso regular de cinco anos. Depois, transfere-se para Berlim, para estudar Plástica Monumental com Arno Brecker, que se constituiria na sua grande especialização. Da forte formação universitária na Alemanha, herda o sentimento nacionalista e o culto aos heróis, aperfeiçoando sua tendência natural à Arte Clássica, voltada para a figura humana. Após muitos anos na Europa, com passagens por Dinamarca, Suécia, França, Balcãs, Turquia, Grécia, Alemanha e Itália, domina sete idiomas e adquire hábitos europeus na vestimenta, na cultura e no comportamento. Educado, impecável no vestir e no falar, é bastante reservado em público. Em família, entretanto, é gentil, brincalhão, alegre e afetuoso. "Se em ocasiões solenes era fechado, em casa era italianíssimo", recorda o sobrinho Nicola Caringi Lima, diretor do Museu da Baronesa. Ao retornar definitivamente ao Brasil, em meio a Segunda Guerra Mundial, depara-se com a era Getúlio Vargas, com o forte nacionalismo brasileiro e o culto aos heróis nacionais. O cenário é perfeito e o mercado amplo para monumentos; recebe diversas encomendas de grandes personalidades nacionais. É neste período que atinge seu ápice, enquanto vivo, consagrando-se como monumentalista.

Em 1933, mesmo estando na Alemanha, recebe o Grande Prêmio de Escultura da Sociedade Felippe dOliveira do Rio de Janeiro/RJ. É o único brasileiro eleito para a Câmara Nacional de Belas-Artes de Münich, chegando a ser convidado para assistir ao lançamento da pedra fundamental da Haus der Deutsche Künst, ao lado de Adolf Hitler. Em entrevista ao jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre, em 1934, Caringi deixaria transparecer certo entusiasmo com o ambiente cultural da Alemanha, em plena ascensão do nazismo, quando Hitler incentiva a Arte Acadêmica em contraposição ao que chamava de Arte Degenerada (a Arte Moderna). Mas isto não significa que tenha se envolvido em política, como, decerto, não se envolveu, nem lá nem aqui.

Nesse mesmo ano, ainda na Alemanha, é premiado com Menção Honrosa (desconhece-se em qual evento) e volta a Porto Alegre, a tempo de participar do concurso do Monumento Eqüestre ao General Bento Gonçalves, a ser erigido na Praça Piratini, em frente ao Colégio Estadual Júlio de Castilhos, durante as comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha. Concorre e vence. Executa o monumento em 1935, inaugurando-o se dá em 15 de janeiro de 1936. Nesse mesmo ano, volta à Europa e viaja por França, Itália, Grécia, Suécia, Dinamarca, Turquia, Argentina e Uruguai. Entre 1936 e 1940, é premiado em Münich, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Volta definitivamente ao Brasil em 1940, em meio a Segunda Grande Guerra Mundial, fixando-se em Porto Alegre/RS.

Em 1942, transfere-se para Pelotas/RS e se casa com a poetisa e grande declamadora, também pelotense, Noemi Assumpção Osório, mais conhecida pelo carinhoso apelido de "Dona Mimi", com quem tem seis filhos: Fernanda, Antônia, Leonardo, Ângela, Glória e Rita. Autora de sete livros de poesia, Dona Mimi está na plenitude da maturidade, beleza retratando algo de pueril, magnetismo alegre e romântico, ativa e com impecável bronzeado, fala com simpatia e inteligência tão marcantes que chega a impressionar. Descende de ilustres personalidades, como o Barão de Jaru, o General Osório, de quem era neta, e é filha de Pedro Osório; fez jus à nobre ascendência. Em 1944, é editado livro sobre sua obra pela Sociedade Felippe dOliveira, registrando os trabalhos produzidos entre 1934 e 1944. Nesta mesma cidade, Caringi responde pela autoria do Monumento ao Expedicionário erigido no Parque Farroupilha. A figura do gaúcho (cavaleiro ou sentinela), trabalhadores, maternidade, lendas e outros temas clássicos, são dominantes na obra do artista.

Em 1948, transfere-se para São Paulo/SP. A contribuição de Caringi para as Artes Plásticas do Rio Grande do Sul, também foi marcante na área do magistério, uma vez que, em 1952, funda a disciplina de Escultura na Escola de Belas-Artes de Pelotas/RS, lecionando-a por 28 anos, até aposentar-se, em 1980. Em 1954, recebe visita, em seu ateliê, do então Presidente Getúlio Vargas. Em 15 de junho de 1957, inaugura seu Monumento ao Expedicionário, em Porto Alegre/RS. Em 20 de setembro de 1958, com presença do então governador Leonel Brizola, inaugura, na entrada da cidade, sua célebre obra O Laçador.

Segundo Joice Lima, somente pessoas íntimas do escultor sabiam de sua mágoa pelo não reconhecimento público de seus méritos em vida. Cada vez que desembarcava em Porto Alegre, ocultava a identidade e, ao passar pelo Laçador, na avenida Farrapos, pergunta ao motorista do táxi: - Que obra é esta? Quase que invariavelmente, lhe respondiam que se tratava da "famosa estátua do Laçador". - E quem a fez?, prosseguia, ansioso por ouvir seu próprio nome. Para sua frustração, porém, os taxistas nunca sabiam responder. "Finalmente, ele começa a se sedimentar como um dos maiores artistas gaúchos e brasileiros do século XX", celebra o sobrinho Nicola, escolhido pela família para ser o representante oficial dos assuntos do escultor. Nicola, que costumava freqüentar a residência de Noemi e Antônio Caringi quando criança, recorda com nostalgia das reuniões familiares, em que a tia declamava poesias e todos cantavam e conversavam: - A casa do tio Antônio respirava arte..., completa Nicola. Em 1964, inaugura a estátua Anita Garibaldiem Laguna/SC, cujo projeto também foi premiado em concurso nacional.

Em 1976, termina sua penúltima obra, O Cristo Crucificado, quando adoece no ateliê no Rio de Janeiro, ficando impedido de trabalhar com a mesma intensidade. Seu último trabalho ao ar livre, inaugurado em 1977, é a Homenagem a Raul Pilla. Em 1978, já doente e andando com dificuldade, Caringi convida Paixão Côrtes para um chá das cinco. “Ele era um gentleman. Tinha sempre uma palavra de carinho para os amigos. Discreto, jamais se gabou de sua obra. Dizia que as Artes Plásticas aproximam os homens e evitam as guerras”, registra o folclorista. Paixão filma em super-8 seu último encontro, quando o criador d'O Laçador, lhe diz: "Já te fiz de corpo inteiro, quando tu eras jovem. Agora, quero eternizar tua máscara com cabelos grisalhos. Vou mandar buscar barro da Biboca (antiga estação de trem na estrada que liga Pelotas a Bagé), que é o melhor material que tem para se trabalhar". Mas Caringi morre em 30 de maio de 1981, em decorrência de distúrbios cardiovasculares, sem tempo de ter o folclorista como modelo mais uma vez. "Ficou-me a tristeza de não ter atendido seu pedido", lamenta Paixão Côrtes.

Em 1997, a Caixa Econômica Federal através do projeto CEF Resgatando a Memória, dedica-lhe retrospecto parcial com curadoria de Marisa Veeck e texto de Paulo Gomes, que observa: "Quanto a sua situação num contexto universal, Caringi está ligado à escultura alemã dos anos 1930, país onde estudou e produziu inúmeras obras". A arte sensível de Caringi homenageia padres, santos, soldados, escritores, heróis, mães, figuras folclóricas - como o Negrinho do Pastoreio -, traduzindo, com suas mãos, a abnegação do colono acolhido nas terras do sul. Desta forma, se torna um dos maiores nomes da Escultura Monumental no Brasil. Todos os seus trabalhos executados foram conquistados em disputados concursos públicos. Em 2005, comemorou-se o centenário do nascimento do artista, um marco para a família do escultor, com muitas homenagens programadas.

Obras:
*Estátua do Laçador, um dos símbolos de Porto Alegre;
*Monumento ao Expedicionário, no Parque Farroupilha, em Porto Alegre;
*Monumento ao Imigrante, em Caxias do Sul;
*Estátua equestre de Bento Gonçalves, em Porto Alegre;
*Monumento em homenagem ao soldado farroupilha, também conhecido como o Bombeador, na Praça Vinte de Setembro, em Pelotas.